Tuesday, October 09, 2007

Ser-tão colorido




Fim-de-semana passado, fomos surtar lá pelo Sertão dos Inhamuns, mais precisamente na cidade de Tauá. Tauá significa “barro vermelhor”. Eu não vi barro, muito menos vermelho. Bom, o encanto ficou por conta do III Festival dos Inhamuns: Circo, Bonecos e Artes de Rua; a surpresa de ver um caldeirão cultural em terras um tanto quanto ermas. Mas, exatamente pela carência de equipamentos culturais, a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult), assim explicam integrantes da produção do evento.

O mais interessante são as raízes da expressão teatral e circense. Além de apresentações de remanescentes dos outros dois festivais, os seis municípios cedem espaço para oficinas e representações artísticas do Estado inteiro e de outras unidades da federação, como o grupo paraibano Cia de Teatro-Circo Lua Crescente, e o casal de trapezistas carioca formados pela Escola Nacional de Circo (ENC) Paula Límia e Raoni Morales, além da Cia Pé de Vento Teatro, de Santa Catarina.

Pedro Domingues, coordenador de Ação Social da Secult, estava lá e disse fazer parte da filosofia da gestão atual a valorização do público, em vez de somente o artista. “Não significa o abandono do artista”, garante. Para ilustrar, Pedro elencou oito ações culturais que acontecem durante o ano no interior. Louváveis iniciativas. Mas, deixando questões políticas de lado, voltemos ao que interessa mais aqui.

Palhaçadas contextualizada

Circo e teatro se confundem na apresentação da moçada arretada do Cia de Teatro-Circo Lua Crescente. Característica que leva ao palco espécies de esquetes para contextualizar as palhaçadas e as intervenções de malabarismo, equilíbrio em pernas de pau, e tudo que mais acontece nos 50 minutos de espetáculo. Foi em 5 de agosto de 2002 que começaram os trabalhos do Lua Crescente, lembra uma das integrantes, Robertânea Barros. Além dela, Kaline Dantas, Ismael Gomes e Diocélio Barbosa compõem a trupe.

O fundador e palhaço da Companhia, Diocélio Barbosa, conversou com a gente e contou um pouco da história do grupo. Ele confirma união da linguagem circense com a teatral e assume não querer trabalhar em circo. Aliás, o Festival dos Inhamuns foi a primeira apresentação em baixo de uma lona. O espetáculo é pensado para a rua, sem microfone ou palco, explica.

A partir de pesquisas e estudos, o grupo chegou a um espetáculo de interatividade com o público e poucas falas para fazer rir e entreter, conta o palhaço chamado Chulé. Ele diz não ter influência de nenhum outro palhaço, embora seja comparado com artistas americanos pelo jeito doidão e desengonçado. Diocélio admira o primeiro palhaço negro do Brasil, Benjamim de Oliveira, pela coragem e pela perseverança. Assim como Benjamim, Chulé já foi vaiado fortemente. “Algumas experimentações não dão certo”, lamenta.


Além da trilha sonora sempre “pra cima”, o grupo interage o tempo inteiro com a platéia, chegando a exagerar um pouco inclusive. A movimentação dos convidados a fazerem parte das apresentações permanece em todo o espetáculo. Quem não gosta de participar, pode sair de mansinho porque, quando Chulé aponta decide chamar alguém, não tem como fugir. Aí, é torcer para pagar o menor mico possível. Assim, sem a platéia o espetáculo pode não funcionar.

Por fim, é um trabalho bastante significativo para as artes de expressão corporal e vocal o que o grupo paraibano está fazendo. Convites para apresentações pelo país inteiro já estão acontecendo, e Diocélio diz sair feliz do Ceará, por onde passou pela segunda vez e se surpreendeu com a participação da população no Festival.

Aéreo Carioca

No picadeiro do circo, a cena foi roubada pelo casal de trapezista carioca Raoni Morales, 26, e Paula Límia, 25. Formados na Escola Nacional de Circo da Fundação Nacional de Arte (ENC/Funarte), eles começaram a namorar antes de trabalharem juntos. O antigo instrutor de capoeira, Raoni disse ter ficado surpreso com a receptividade e a cultura do povo cearense. “Se apresentar para o pessoal carente de festivais como esse é melhor”, argumentou.

Ainda tirando fotos com a criançada, os artistas contaram que têm o projeto de sair do Brasil por conta da falta de incentivo e valorização dos artistas independentes. Paula ratifica que é difícil viver de circo. Há apenas um ano que se formaram pela ENC, mas, em cinco minutos de apresentação no trapézio, já hipnotizam por onde passam, inclusive os olhos dos mais desatentos.

Raoni preferiu não revelar valores de cachês, mas garantiu viver com a esposa das apresentações e oficinas que fazem. O casal confessou ainda que pretende trabalhar para sair do país, buscando um lugar que valorizem verdadeiramente os artistas de circo.


Por Andreh Jonathas

2 Comments:

At 10:05 PM, October 09, 2007 , Blogger Unknown said...

Obrigado pelos créditos na foto cara..
Abraço meu filho..

=)

 
At 8:01 AM, October 11, 2007 , Blogger Andreh Jonathas said...

pode crer

 

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