Monday, February 11, 2008

Cascos multicoloridos


Textículo do carnaval de PÉrnambuco

Com quantas ladeiras se faz um carnaval? Olinda, em Pernambuco, responde. Assim como também diz com quantos sopros de trompetes, com quantas batidas de surdos e com quantas gotas de suor se faz uma verdadeira festa popular. Ouvidos bem abertos, ou melhor, olhos arregalados para o relato de um folião, mais um dentre os milhares que subiram e desceram ladeiras e desembocaram no Marco Zero de Recife. Um exemplo para nós, cearenses. Sem papel e sem caneta, e apenas com as canelas pulando, foi fácil lembrar detalhes de có e salteado. Ah! As fotos vêm depois.

Quem define o carnaval de Pernambuco é o frevo, caboclinhos e uma tonelada de maracatus. Pesado como o som do Nação Zumbi, que fez, literalmente, chover.O pináculo do carnaval, pelo menos, o meu. Para quem estava mais próximo da cidade, ou seja, não dispensava o busão nem deixava de seguir para a folia a pé não pode fugir, ao se passar na calada das meretrizes, do arrocha, do pagode baiano, nem do forró eletrônico cearense – aviões do Forró, diga-se de passagem. Aliás, o cearense tem muito mais a ver com o carnaval de Pernambuco do que se imagina. Até uma ladeira recebeu o nome de Zero Oito Cinco em homenagem aos “cabeça-chatas”. Na verdade, nem sei se o nome tem essa gênese, mas, enfim... lá estão eles, fantasiados, fantasiados de novo e, finalmente, realizados: bebem, dançam, beijam e se misturam aos cariocas, paulistas, baianos, etc e tal. E pasmem, a torcida organizada do vozão e leão estavam presentes. É!

Pois, pois. Refazendo um ditado popular, tendenciosamente: Só não vai atrás do frevo quem já morreu! O que mais se escutava nesses rápidos cinco dias na Frevolândia era uma classificação de “carnaval multicultural” e “democrático”. Não há exagero nenhum aí. Sem cordão de isolamentos nos blocos e sem ingresso para entrar nos shows, misturado mesmo, como se diz pejorativamente quando tem a galeras de situações sociais diferentes. Mas parece que pode também ter sido chamado de O Carnaval da Paz. Esborrotado de gente, mas com pouquíssimos incidentes, pelos menos no que se via e se comentava. Ah! Nenhuma arquibancada ou palco caiu. Rss!

A memória me fez lembrar de um episódio, digamos, sufocante. Enquanto uma multidão recebia e passava calor no bloco Quanta Ladeira às margens do Rio Capibaribe, um peixe sufocava. É isso. Um peixe morria no próprio lar. Com uma respiração ofegante, pouco havia a se fazer. Apenas não olhar mais àquele fim de vida. É que o rio é poluído – fedorento de verdade – e fica num encher e esvaziar sem fim. Então, Mata peixes. Mas com fedor e poluição, lá estava eu cantando: “Quanta ladeira. Olinda, quanta ladeira! Quanta ladeeeeeeeira...”

Não faltou também oportunidade para vieses políticos. Pode crer. No show da intérprete e compositora, Elba Ramalho – professora Elba, em alguns momentos (poisé, tem uma professora Elba Ramalho aqui no Ceará, da Uece) – ela não perdeu a chance de cutucar a conhecida Transposição do Rio São Francisco. O compositor Chico César subiu ao palco principal, no Bairro Recife Antigo, no Marco Zero. Acho que tinha umas e outras na cabeça. Claro, já era tarde. Não é possível que tivesse esperando até uma da manhã só para dar uma “canja”. Enfim... Talvez quisesse cantar no evento para o qual não foi convidado. Kkkkkkkk! Ou foi? Sei lá, foram mais de 100 shows. O fato é que os mais atentos perceberam frases do tipo “Salvem o Chico”, “Olhem o Chico”, fazendo trocadilho entre Chico César e o Velho Chico (Rio São Francisco). Mais do que as indiretas, cantarolou de improviso em defesa da não transposição. Poisé! A maioria dos paraibanos é contra mesmo.

Voltando à folia. No fim de tudo, quando da derradeira respirada em terras do “visse” e do “tá ligado”, soube de fonte confiável que as sombrinhas, isso mesmo, as sombrinhas abanadas nas mãos dos passistas de frevo são produzidas, em sua maioria... Hehe... na China. Tacaocunaquina, então. A justificativa é a mesma de sempre: “Sai mais barato comprá-las dos chineses”, muitas vezes, elas são fruto de contrabando.

A fantasia que mais me marcou dizia: “Faltam 354 dias para o carnaval”. Um pouco mais, um pouco menos. É osso, mas é isso!

Por Andreh Jonathas

3 Comments:

At 4:36 AM, February 12, 2008 , Anonymous Anonymous said...

haha! professora elba eh foda! haha! Imbecil.. heheh Como eu queria ter ido esse ano... E como diz uma paródia do quanta ladeira desse ano, que vi no youtube... "Eu acredito é na raça viada..."!
Continue com os post johnatas.. que eu acredito em vc haha!
Abraço!

 
At 4:44 AM, February 12, 2008 , Blogger Andreh Jonathas said...

eu acredito na raça viada e em vc n foi um dos teus trocadilhos infames n né?

 
At 7:13 AM, February 15, 2008 , Anonymous Anonymous said...

Este é o tipico brasileiro que sabe jogar e brincar com todo fenomeno: é a nossa maneira de dialogar e superar todo fato moral ou social. Andreh, valeu a criatividade!

 

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