Sunday, February 24, 2008

O Teatro Mágico: Limite entre o alternativo e o "pop"






Em tom de oração, pede: “Pai, ensina-me a ser palhaço”... “Mas isto não se ensina, seu bosta!”

“Quem veio aqui para ver um show, veio ao lugar errado. Isso aqui não é show. É apenas uma desculpa esfarrapada para pessoas raras como vocês estarem juntas...”. O que parece um aviso mal educado e grosseiro, na verdade, é um acordo feito, carinhosamente, com o público para início de compreensão do projeto carregado há quatro anos por um grupo chamado O Teatro Mágico. E fica bem claro o intuito. Em um bate papo exclusivo, após show em Fortaleza (dia 21), o segundo da turnê Nordeste, o líder da trupe, Fernando Anitelli, definiu “consolidar a arte independente, livre e espontânea” como objetivo da banda vinda “diretamente do mundo mágico de Ozz... Osasco.”

Eles conseguem, através de músicas “todas assobiáveis”, conquistar cada um dos que pagaram salgados R$ 20 – valor da meia-entrada – para vê-los. O show em Fortaleza deixou o público de boca aberta, fez chorar, fez rir, fez sentar em forma de luau, e fez também pular em grande parte da apresentação. A trupe, como eles mesmos se identificam, tem algo de circo, mas poderia muito bem ser uma banda “pop” ou até mesmo um punhado de atores tentando cantar.

Caracterizados com uma mistura de roupa de palhaço e elementos da chamada cultura popular, a brincadeira toma forma em cima do palco, e, mesmo as músicas mais “mela cueca” não são nada insossas. É uma frigideira lotada de emoções diversas através de mensagens que mesclam poesia e crônica cotidiana com bastante influência religiosa, perceptível nas letras.

Independência. Nos bastidores, enquanto o público o esperava para fazer fotos e pegar autógrafos de Anitelli, ele conta, sem perder a simpatia e a paciência, que já surgiram propostas de várias grandes gravadoras, como a Universal Music, Som Livre, Warner Music e BMG, mas segundo argumenta, “nenhuma vai colocar o CD para o público por R$ 5,00”.

Não ter gravadora tem seus prós e contras, admite, contudo garante que dá pra levar o trabalho de forma independente. No caso de um contrato, ao mesmo tempo em que se tem uma segurança financeira, é necessário aparecer em comercial de produtos que não têm a ver com o projeto, em novela e etc. Todas as gravadoras querem modificar alguma coisa, diz.

A liberdade para criar é onde está a preciosidade em ser independente, explica. Em relação ao novo CD, o 2º. Ato, Anitelli diz está melhor do que o primeiro, mais maduro: “Nós não criamos algo sem sentido, algo aleatório.” Ele fala que a idéia é mostrar algo “mutante, com mais debates e críticas”. “Quando pensei no projeto, pensei em uma trilogia. São três filhos, então não tem como dizer qual será o melhor”, brinca. A mistura de ritmos com linguagem cotidiana faz maior parte do público ser de adolescentes.

Show em Fortaleza. A presença do pequeno, embora animado, público na apresentação em Fortaleza não poderia ser diferente. Era uma quinta-feira, havia apenas uma atração e com divulgação que se restringiu a internet e duas matérias na mídia (Jornal O Estado e O Povo). Maíra, produtora da banda, explicou que aconteceram problemas com o transporte da banda na volta do show de São Luiz (Ma), tendo ela que dormir no dia anterior à apresentação em Fortaleza em Teresina (PI). Por isso, não foi possível fazer “vivos” em TVs nem participar de programas em rádio.

Fernando Anitelli garante que vão voltar, no segundo semestre, a Fortaleza para lançar os novos show e CD, e diz ter na Capital cearense um dos públicos mais intensos.

Cancelamento da turnê Nordeste. A euforia de jovens no segundo show d’O Teatro Mágico em Fortaleza, dia 21, não foi o suficiente para animar os responsáveis pelo evento. Quando as luzes se apagaram, enquanto o grupo fazia o tradicional bate-papo com o público e dava autógrafos, os comentários eram de que o show na Capital cearense teria sido, praticamente, bancado pela banda, ao invés da Produtora de Campina Grande responsável pela turnê na região Nordeste. O público não foi o esperado e a decisão foi cancelar os outros quatro shows.

“É com grande pesar que a produção d’O Teatro Mágico comunica aos fãs e à imprensa o cancelamento de suas apresentações previstas para as seguintes cidades e datas: Natal/RN, dia 23/02; Campina Grande/PB, dia 24/02; Maceió/AL, dia 29/02; João Pessoa/PB, dia 02/03; Gostaríamos de esclarecer que os cancelamentos ocorrem contra a vontade do grupo e que se devem a problemas de responsabilidade única e exclusiva de Ilana Abrantes, que contratou O Teatro Mágico para a realização dos shows citados acima”, informa o weblog da banda no site www.oteatromagico.mus.br.

O certo é que O Teatro Mágico passa por um momento de definições, que já deve se estender por algum tempo. Com um trabalho forçadamente “independente”, tendo em vista as várias propostas recusadas de grandes gravadoras, o grupo se vê entre a cruz e a espada. Em Fortaleza, o valor do ingresso foi salgado e, por isso, criticado pelos fãs. O fenômeno da internet e do “boca a boca” tem compromissos financeiros e torna-se difícil seguir um projeto sem qualquer parceria. A questão é como encontrar um meio termo entre ser independente e conseguir honrar as contas. Anitelli insiste em levar o projeto de forma independente. Mas até quando? Ceder em certos pontos traria algum crescimento? O público entenderia certas atitudes comerciais? É isso! O primeiro texto deste endereço virtual que não tem o "É Osso".

Este weblog torce pelo sucesso do trabalho do TM e deixa um abraço especial para Nenê dos Santos (baterista) e para Fernando Anitelli (alma do grupo), que me recebeu tão bem em cerca de vinte minutos de conversas, mesmo depois de duas horas de shows e sem entrevista pré-marcada. Pena que não tenho foto com a galera. Rss! Enfim, um bate papo com “raros” vale mais que mil imagens.

Por Andreh Jonathas

9 Comments:

At 7:11 AM, February 28, 2008 , Blogger Metheoro said...

fora a foto piada pronta da Gabi... e a não citação da música do cordel do fogo encantado..o texto ta bem bom.

 
At 11:13 AM, February 28, 2008 , Anonymous Anonymous said...

Parabéns pelo texto.
Foi muito bom ler mais uma vez, que o Anitelli quer voltar pra cá e se identificou conosco.
As fotos da Gabi ficaram bem boas, hein? tava bem perto da boenca. ;D

 
At 6:44 PM, February 28, 2008 , Blogger Andreh Jonathas said...

opa...comentários...lega terem gostado do texto...a "não citação" até entendo, mas "a foto piada pronta da Gabi", Zé hilário, me surpreendeu... rss... não quis "piadar". Achei legais esses ângulos, diferentes dos que já tinha visto.

Tathalita, eu tava bem pertim mermo, me espremendo no mêi do povo.

Abraço pessoal
Lendário Calango da Montanha

 
At 7:13 PM, February 28, 2008 , Blogger Unknown said...

This comment has been removed by the author.

 
At 4:23 AM, March 09, 2008 , Blogger Sidney said...

E aew. Taí, gostei desse texto. Finalmente fez algum que preste..eheheheh Vou tratar de atualizar o meu, que ja ta com uns 6 meses de atraso..ehehe

 
At 9:32 AM, March 11, 2008 , Blogger Andreh Jonathas said...

olha o respeito, rapaz, sempre são coisas legais...agora legais pra uns, e paia pra outros...o certo é q é democrático e independente como nenhum outro veículo tem...rss

 
At 2:30 PM, January 22, 2009 , Blogger Ana Cristina said...

gostei muito do texto, difícil achar algum pela internet que fale d'o Teatro Mágico assim. Muitos distorcem ou apenas repetem o que Anitelli diz sem nem entender ou querer fazer entender o que ele quis dizer.

 
At 2:32 PM, January 22, 2009 , Blogger Ana Cristina said...

ah, e sobre o TM aceitar o apoio das gravadoras, acho que aí perderia a essência pela qual eles tanto lutam, de ser uma trupe aceita pelas pessoas e não enfiada goela abaixo por comerciais ;)

 
At 6:20 PM, June 04, 2010 , Blogger Odácio said...

Reli esse texto hoje. Ontem estivemos novamente em Fortaleza, agora em um evento gratuito. Foi muito prazeiroso ver e ouvir a participação do público (grande, por sinal) e acabarem com o que a gente tinha na Lojinha. Bom também reler sobre o assédio que o TM sofre das gravadoras. Melhor ainda ver que continuamos independentes, longe delas, e de estarmos conseguindo "invadir" os espaços da TV sem pagar jabá. Isso é independência.

 

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