Sunday, January 28, 2007

Sexo é pecado!



É sábado à noite. Como todos os meus planos de deleite para este tão esperado e necessário momento ruíram, estou aqui no silêncio notívago de meu lar. Não tão doce, como se há de presumir...

Interessante. Reflito, absorto, o quanto sou contraditório. A esta constatação já havia chegado em tempos anteriores. Contudo, a curiosa situação em que me encontro não me permitiu evitar tais pensamentos. À minha frente, o Bhagavad Gita: decidi empreender a leitura nestas minhas horas de ócio – que ao menos seja um “ócio criativo”, como diziam os gregos! Contudo, esquecendo estas referências ocidentais, tenho então mergulhado na cultura indiana, com mente aberta para absorver o que esta tem para me dizer. Este livro é apenas um dos capítulos do afamado Mahabhárata, um poema épico com nada menos que 100 mil estrofes (!), o maior de toda a história! No Gita, Krishna, o Deus Supremo, prega de forma inspiradamente poética a sua doutrina.

Fui ao encontro Hare Krishna num desses fins-de-semana e tenho bebido bastante desta cultura de lá para cá. E aí reside minha atual (apenas mais uma) contradição: aos seguidores desta seita é indicado o distanciamento da bebida alcoólica, da carne, do sexo e até mesmo do chocolate preto (quanta austeridade!). Entretanto, sem a mínima intenção de protesto, com fascínio e entrega (quase entrega) leio este inspirado poema à companhia do vinho (meu sempre parceiro…), de um meio-passado churrasco e – por mais excêntrica que seja a combinação – de um barato chocolate. E, como é madrugada de sábado e sou jovem em plena virtuosidade (ou voluptuosidade), inevitáveis cenas eróticas povoam minha mente… Bem, mas minhas contradições não devem ser o tópico deste texto.

Desejo relatar (e o verbo desejar é muito cabível aqui), portanto, algumas reflexões instigadas pela leitura deste épico. Um trecho em especial furtou-me a atenção. Krishna conversa com Árjuna, seu mais querido guerreiro, que lhe pergunta a razão de todos os pecados, ao que o Supremo Deus responde: “É tão-somente a luxúria gerada pela paixão que mais tarde se transforma em ira, a grande inimiga pecaminosa e voraz, devoradora de tudo”, e continua: “Como o fumo cobre o fogo, a poeira cobre o espelho e o útero cobre o feto, de maneira simular o ser vivo está coberto por camadas de luxúria. Desse modo, a consciência é coberta de luxúria, que é sua eterna inimiga, pois nunca se satisfaz e arde tanto como o fogo”.

Tais palavras enchem-me de espanto e questionamentos. Posicionamento semelhante já havia eu recebido pelo cristianismo (já fui fiel seguidor, assemelho-me, entretanto, agora mais com filho pródigo), contudo jamais com tanta veemência – e retórica. Busco, então, no dicionário outras acepções para luxúria, no qual encontro os sinônimos sensualidade, lascívia e libertinagem. É impressionante como tais palavras me são intensas, despertam meus sentidos. Tão belas quanto condenadas…

Indago-me o porquê de tamanho alarde envolto na questão sexual. Olho isso de uma forma tão bela que me pergunto onde reside tal perversidade em exercer livremente o desejo, em buscar o prazer, algo tão humano, tão necessário.

A partir de então, reflito um pouco sobre como estes valores nos são colocados e reafirmados. Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida – todas tão boas, singelas e puras. Verdadeiramente puras, ou seja, virgens. Sim, não foram contaminadas pelo sêmem profanador! Ainda possuem a sua honra. Será, por acaso, que uma vez perdendo tão honroso hímem ganhariam elas um papel de bruxas? Aqui me rendo a certo ponto curioso levantado em algumas das seqüências do filme Pânico: Por que só as virgens sobrevivem? Bom, talvez fosse crueldade extrema matar seres tão pouco aventurados…

Entretanto, ainda busco uma explicação para tal proibição da luxúria, da vivência do sexo em liberdade. Ora, esta advertência é um dogma presente nas mais diversas culturas, orientais e ocidentais. Talvez seja algo bem mais justificável do que esta minha liberta e libidinosa mente. Enfim, devo eu opor-me a Krishna ou mesmo a Javé? Penso ser melhor não…

A noite é bastante avançada agora. Já tentando convencer-me de buscar a castidade sem mais perguntas ou respostas, eis que meu irmão, aventurado, chega de realizado semblante, vindo de sua – ao que parece – satisfatória caçada noturna. Olha para mim, deixando bem explícito um certo ar de superioridade, suspira, como grande nobre vencedor de sua batalha, e lança-me nada mais que a célebre frase: “Como é bom raparigar!”

E eu ainda mais perdido em minhas contradições…

Colaborador: Edgar Bertram

7 Comments:

At 11:42 AM, January 28, 2007 , Blogger Andreh Jonathas said...

achei muito boa a crônica... já temos um colaborador fiel pro nosso espontâneo blog... que n é um 'diário'...hehe...Valeu Edgar!

 
At 6:33 PM, January 28, 2007 , Blogger Unknown said...

André... ficou engraçada a figura, confesso que não li o texto, risos... mas irei ler depois... Bjos, Raquel.

 
At 7:06 PM, January 28, 2007 , Anonymous Anonymous said...

tou com raquel, passei por aqui, beijo, amigo!

 
At 6:34 AM, January 29, 2007 , Blogger Andreh Jonathas said...

A Carmem passou por aqui......q massa... obrigado a todos q olham pra essas letras virtuais...abraço pessoal

 
At 6:59 AM, January 29, 2007 , Anonymous Anonymous said...

Hummmmm. Essa fotinho ficou SHOW. Tbem confesso que não li o texto inteiro, mas, com certeza, vindo de quem veio, deve esta super interessante né miguxo. Abraços.

 
At 8:15 AM, January 29, 2007 , Anonymous Anonymous said...

A foto ficou rídicula,vc deveria tirar suas próprias fotos e não clonar qualquer uma.Você é inteligente e um ótimo fotografo,aconselho que substitua a foto por outra melhor.O contexto está contraditório mesmo.

Um abraço...

 
At 5:11 PM, January 29, 2007 , Anonymous Anonymous said...

boooooooooooa!... obrigado pelos elogios....enquanto a foto, achei irada e não vou mudar. AH! Não quero ter q barrar comentários, por isso deixo livre e aberto pra todo mundo comentar....mar, puramodedeusu, assinassem! HeHe! Outra coisa, que escreveu esse texto foi um colaborador de nome Edgar Bertram, e não eu. Abraço pessoal!

 

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