(quase) Oração do voo 447

Antes que cacem os culpados; antes que a razão humana seja substituída pelas reações animalizadas; antes que a mídia transforme a tragédia em picos de audiência; antes que comecem as entrevistas exclusivas com familiares das vitimas; antes que apareçam opiniões e teses mirabolantes sobre as causas do acidente; antes que façam o filme do voo 447; antes que o desespero acabe, orai.

Orai pelos 58 brasileiros, 61 franceses, 26 alemães, nove italianos, nove chineses, seis suíços, cinco ingleses, cinco libaneses, quatro húngaros, três irlandeses, três eslovacos, três noruegueses, dois espanhóis, dois norte-americanos, dois marroquinos e dois poloneses que estavam no Airbus A330-200 da Air France-KL, que partiu do Rio de Janeiro domingo, 31 de maio, com destino à Paris (FR).

Orai também por um passageiro da Áustria, Argentina, Bélgica, Canadá, Croácia, Filipinas, Dinamarca, Holanda, Gâmbia, Romênia, Rússia, África do Sul, Suécia, Estônia, Turquia e Islândia, que também chegaram a outro destino, que não o planejado. Orai, principalmente, pelas famílias e amigos de cada um deles. Mas não é preciso juntas as mãos, mirar para o céu ou ficar de joelhos. Orai de qualquer maneira, em qualquer língua, pra qualquer entidade espiritual. E se não acreditar em oração, orai assim mesmo.

Orai porque o avião desapareceu e, junto com ele, a esperança e a atividade de cada homem e mulher de bem que pode estar no fundo do atlântico. Mas orai também para que esteja apenas “Lost”, porque a esperança pode planar ou boiar.

Orai para que não caiam mais aviões, mas também orai para que não percamos mais benfeitores, trabalhadores, príncipes, estudantes, funcionários de mineradoras nem maestros. Orai pela injustiça, ou melhor, para que não haja injustiça com a vida de pessoas do bem. Que morram os que merecem, se é que alguém merece.

Oh, Deus, porque os levaste? Porque não escolheu outro hangar? Reponda-me, eu imploro! – “Meu filho, portas em automático, mantenha o cinto afivelado”.