Saturday, May 29, 2010

A beleza é cega

Muito bom receber colaborações. Minha colega Natália Crisóstomo, odontóloga (pôdi de chique), enviou essa reflexão sobre a beleza e a perfeição. Só sei de uma coisa: somos cegos pras belezas mais puras. 

"É comum acreditar que a beleza deriva da perfeição. Contudo, a beleza é relativa, a perfeição, não. Pode-se até dizer que toda perfeição é bela, mas nem toda beleza é perfeita.

O perfeito não deixa espaço para questionamentos, falhas ou dúvidas. Ou é perfeito ou não é. Já a beleza depende. Depende de tudo. Depende do que e da forma como se vê. Depende de quem a julga, das expectativas e valores desse alguém, e até mesmo do seu estado de espírito.

As pessoas comumente são levadas a raciocinar a beleza pelos filtros da perfeição. A beleza se mede por quão perfeito algo é, ou por quanto lhe falta para alcançar a perfeição. Mas em um mundo tão imperfeito, muito custaria encontrar a beleza, se assim fosse.

Sendo mais maleáveis, e, diria eu, um pouco mais sensíveis, veríamos a beleza na mais simples e banal imperfeição. O imperfeito é perfeito. Não há o que julgar ou medir. Não há o que se submeter a avaliação, e, portanto, não há o que se reprovar. Há, sim, o que se aceitar.

A partir da aceitação do imperfeito enxergamos a beleza em sua plenitude. O imperfeito nos aproxima do real, do palpável, do mutável. Saímos da condição de meros expectadores e passamos a agentes da mudança. Se não é perfeito é mutável, há o que se mudar e há busca. Tal busca, porém, não deve ser incessante, deve ser o suficiente para se alcançar a satisfação pessoal, de onde surge, inevitavelmente, a beleza.

Ver a beleza no imperfeito é difícil, foge à convenção. É, portanto, preciso coragem para admirar o imperfeito, pois isso significa contentar-se com o real em detrimento do ideal. Significa limitar a ambição, reconhecer os limites e ampliar a humildade.

O imperfeito é belo porque é o que existe, o que nos atinge e o que nos cerca. É belo por não se resumir à contemplação estática, mas se expandir em um processo constante de desenvolvimento interior.

Em que imperfeição você enxerga beleza?"