O lendário calango da patagônia, olhando tudo lá de cima.
Wednesday, April 14, 2010
Você parte
Você parte, Mas, em parte, Fica. E mesmo longe, O coração tonifica, Veias e artérias Lubrifica Porque a parte que fica É uma parte, Mas é tão forte Que deixar completa a metade. Depois, eu que parto, E deixo minha parte Que também é forte. De qualquer modo, E mesmo que seja um teste Logo chega a outra parte, Porque o todo Nem é Sul nem Sudeste.
Que não saibam mais nada da língua portuguesa que a conjugação verbal. A língua-mãe, língua-pátria - ou qualquer nome que se dê à língua -, nos ensina sobre relacionamentos. Todos os tipos. E quebra o sentido linear do tempo, porque começa no futuro, passa pelo presente e se torna passado, isso tudo, inevitavelmente. Nem importa a época ou a região. Mudam as expressões, ficam os tempos verbais.
Tudo é novo no instante do encontro, no futuro e varia só o tipo do que vem a ser. No presente, só os pelos, que se arrepiam, os gestos, que se aperreiam, os olhos, que se arregalam, o corpo, que sua, as mãos, que gelam.
“Eu queria (o certo é quereria, porque “queria” é pretérito imperfeito) tanto te conhecer”; “Eu vou pegar aquela gata”; “Que gostosa! Vai ser mole, mole”; “Eu vou me arrochar com aquele deus grego”; “Hum! Vai ser ótimo pegar aquele pão”; “Eu me atracarei naquelas pernas”. Vem o incentivo, o que dá mais segurança. “Vai lá, cara”; “Vai dar certo, viu!”; “Eu vou te apresentar”; “Vai rolar, amiga!”. O verbo “ir” é vedete, por tanto.
Daí, no desenrolar da conquista, em que as emoções são intensas e incertas, o verbo no presente do indicativo prevalece. É a fase da argumentação, da venda, da publicidade. De uma maneira ou de outra, é o momento em que as regras são limítrofes, porque pode ser um sucesso, uma decepção ou, simplesmente, indiferente - o que é pior. Aqui, os verbos no imperativo, dando ordem, funcionam pouco. É um paradoxo publicitário (eu que penso).
Nos casos de não acontecer, para amenizar, tenta-se uma saída mais eufêmica. Uma espécie de consolo. “Vai ficar só na amizade”; “Você é legal, mas não vai rolar”; “Somos muito diferentes, não vai dar certo”. É futuro, mas é um futuro meio sem futuro. É um futuro do passado, sem presente. Por tanto, é para se conformar com o salto - do futuro direto para o passado: “Iria rolar, mas não deu certo!”
As expressões “Êh, lá em casa” e “Se eu te pego...”, são condicionais, dependem de algo para ocorrer. Por isso, são inúteis, como é inútil chamar atenção por meio de sons. Aqueles sons conhecidos. Nunca na história da literatura da paquera (eu que penso) uma pessoa faturou outra – sem pagar -, com um “fiu-fiu”, um “psiu” ou com aquela buzinada de carro. Mas por que todo mundo faz isso?
Bom, depois da flechada, da paquera, agora é o presente perfeito. Ah, o presente! Esse tempo verbal bem que poderia se chamar “concreto”. “Menino, conjuga aí o verbo no concreto do afirmativo”. Seria legal! É que é a hora da verdade: “Você é meu tudo”; “Eu não vivo sem você”; “Adoro estar com você”; “A noite é perfeita contigo”; “Tu me faz (fazes) tão feliz”. É tudo muito concreto, palpável, existente.
Vez por outra, rola um futuro, mas é um futuro do presente. “Nós construiremos uma família”. É um futuro que chega perto do agora, mas logo vai pro passado. Por que, na verdade, no calor das emoções, o presente é insatisfatório. Não se consegue pensar só no presente, a ponto de, às vezes, perder o foco e estragar tudo. Confusão essa causada por uma simples pergunta no futuro: “Iremos nos casar?” Se você soubesse o quanto não precisava ter falado isso....
Perceber o patamar do que as pessoas que se relacionam sentem faz a diferença. Aceitar que nunca - mas nunca mesmo -, os sentimentos se equilibrarão não é fácil. Uma série de fatores influencia no “sentimentômetro” - aparelho que mede os sentimentos. Felizmente, não existe esse aparelho, porque a mecanização de qualquer tipo de relação acomoda o que seria a meta de sentimento para aquele dia.
Enfim... depois de uma série de conjugações erradas, a relação tropeça e se torna passado. Nesse caso, quanto mais passado, melhor, para que o futuro do presente chegue mais rápido possível. Se foi um passado perfeito: “Fomos felizes”; “Eu te amei”. Mas se for um pretérito, assim, imperfeito: “Éramos felizes”; “Eu te amava”. A diferença é que, respectivamente, a felicidade e o amor foram instantâneos ou permanentes. O certo é que ambos ficaram para trás, no passado.
Alfabetização nos relacionamentos humanos passa, necessariamente, pela compreensão verbal. (Eu que penso)
Legal essas tirinhas que encontrei no Jacaré Banguela. Fui ao original e taí uma dica legal de humor crítico e sem pudicícias. (1) Ryotiras (2) Malvados