Wednesday, March 18, 2009

Lisboa, a velha cidade e boa.


Minha amiga Aline Pedrosa, capoerista de mão cheia, regueira de alma leve e sorridente de carisma farto, está em terras lusas. De lá, ela faz essa belíssima colaboração ao Surtou. Aproveitem pra acompanhar essa experiência maravilhosa e degustem os sabores de Lisboa. Valeu, Aline.

Olhos atentos fixados na arquitetura antiga e atraente de Lisboa, a saudade da terra e do meu povo até chega a se aliviar devido tanta beleza. Um lugar cheio de fronteiras, estilos e culturas. O sotaque do português de portugal e inconfudível, porém, a língua apesar de ser a mesma da nossa tem muitas diferenças.

Camisola aqui significa blusa; casa de banho é banheiro; telemóvel: celular; sítio: relacionado a lugar; calhar: talvez; tempo de antena: horário político; fazer um bico não quer dizer fazer um trabalho, mas sim algo relacionado a sexo. E assim vão outras palavras desconhecidas por nós.

Não é difícil aprender a andar em Lisboa. Além de pequena, tem um sistema de transportes muito eficiente. Pode-se andar de autocarro (ônibus), metro e não metrô, comboio (trem), ou ate mesmo de elétrico. Os autocarros mais parecem um avião. Na parada, tem o tempo que falta para eles chegarem. O metro tem uma cadeira tão confortável que mais parece um sofá. A rapidez da locomoção e da frequência que eles transitam é imprecionante. Nos transportes, é comum também ver as pessoas lendo jornais – alguns desses destribuídos gratuitamente - , revistas ou livros. Isso me encanta!

Encontrei já alguns brasileiros na rua quando fui pedir informações, afinal quem tem boca vai a Roma. Ou seria a Lisboa? Aqui existem muitos brasucas, que apesar do preconceito enfrentado, batalham para conseguir uma vida melhor. "Morar em Portugal não é nada fácil mas, aqui a gente trabalha e consegue ter as nossas coisas", falou Vangles, o ceranse capoeirista integrante do Centro Cultural Água de Beber e que mora em Setubal - 40 km de Lisboa - há 4 anos.

A arte da capoeiragem aqui é bem forte, o que significa a continuação de nossa origem negra. Teatros, museus e shows culturais também fazem parte da vida lusitana. É, sem dúvida, o lugar dos fados, música meio melancólica assim como a cara da cidade. É fácil perceber que a maioria da população é velha, sempre se vê nas ruas aqueles senhores bem caricatos tipo de desenho animado.

É bem verdade que o Brasil é um mundo mas, Portugal é cheio de fronteiras. Aqui tem gente do mundo lugar, um calderão de línguas. Quase todas fumantes ativos, portanto, quem vive aqui já se torna um fumante passivo não tem jeito. Todos estudam desde cedo inglês e francês como línguas obrigatórias. As roupas dos jovens são alucinantes, as mais inusitadas possíveis, muito estilo para um lugar tão pequeno.

As pessoas, apesar de frias, são educadas. Não se vê lixo nas ruas , os carros param para os pedestres atravessarem na faixa de pedestre (que eles chamam de passadeira), eles não atendem celular quando estão dirigindo e a primeira coisa que fazem quando entram no carro é colocar o cinto mas, não por obrigação e sim, por segurança. Nos supermercados é cobrado 2 cêntimos por cada saco plastico, o que faz com que muitos atentem para o consumo consciente e levem as suas sacolas já de casa.

A pobreza existe, porém, é minima comparada ao Brasil. Quando se ve mendigos na rua geralmente estão com um animal tal e qual o seu dono. Todas as casas têm banheiras com a ducha de banho e água quente. Vinho é algo que eles fazem questão de dizer que são entendedores, custama-se almonçar e jantar com o copo cheio. Nas universidades vendem-se cervejas e é bem comum ver um grupinho arrodeado de garrafas. Os doces são de deixar qualquer um babado. É bem comum estarmos caminhando nas ruas e ver aquelas vitrines que você mesmo sem estar com fome é tentado pelo pecado da gula.

Em Portugal, o fuso horário é de três horas a mais que aí no Brasil, igual o dinheiro que também vale o triplo do nosso. Ainda sofro do mau de multiplicar tudo por três, porém, se continuar a fazer isso com certeza vou ficar doida. Quando cheguei em Lisboa ainda peguei o inverso, um frio tão gelado (que intensificava as saudades). Graças a Deus, este está chegando ao fim. E que venha a primavera, e com ela muitas flores. Até logo Fortaleza, terra boa minha!

Sunday, March 08, 2009

Lúcias e Amélias


Há nove anos, eu me aventurei em uma poesia para homenagear as mulheres. O texto foi publicado domingo, dia 16 de abril (por tanto, depois o Dia das Mulheres), no caderno Jornal do Leitor, do Jornal O POVO - donde hoje sou repórter. Eu era estudante do terceiro ano do ensino médio do Colégio Sete de Setembro. Se me prometer que não vai rir, eu deixo ler. Ah, pode olha essa chibata.

Mulher, melhor mãe
Maria magnânima do mundo,
Mais que labirinto, ser profundo
De dualidades inequívocas.

Helena de realeza beleza,
De perspicaz Tereza.
Francisca de singeleza e sapiência,
Conceição realça paciência.

Tudo sincronizado,
só não dizer concretizado,
Lutando e saindo da sombra imposta,
E a criar seu sol. Quer uma aposta?

Antônia é elevo de vários
A Graça tem uma invejável graça,
Audácia, amor, perdão, Justiça...
Ah! Nem com todas as qualidades.

Mulher tem dor natural da vida,
Que suporta qualquer ferida,
Que, além de tudo, é um artista,
Que sofre até com o dito machista.

Tuesday, March 03, 2009

Olhos fundos


O instrumento furante branco com prateado revela suas garras e ajuda a exalar o cheiro da fórmula divina. Mesmo que seco e de terras incas, a dádiva líquida enobrece a circunstância, esteriliza a alma e torna mais viva a cobiça, o anseio, o desejo. Sede.

A descoberta dos sentidos se torna mais intensa com as ondas. Do mar e da leve trilha embossada. Até a chuva pinta o cenário ideal, ou próximo disto. Basta ser cego. Som.

O convite pra dançar... é hora de aproveitar. Aproveitar a luz amarelada, a vista por entre a selva de pedras, a lua que torce ansiosa. O sofá aproveita pra passar o frio. A parede, a cortina e os enfeites apostam cristais Swarovski e tafetá num resultado provável. Visão.

Olhos fundos, mas sem a dor de todo esse mundo. O mel que se transforma, ao sol, em verde. O mar que aproxima e afasta. Vento, frio, calor. E não é preciso de Vinícius nem Drummond. A própria ocasião compõe versos com rimas perfeitas. Não que rimas perfeitas sejam as melhores.

Eu mostrei sorrindo, mostrei a ela. Ela viu o que passou na janela.